Por
Clara Barata
Se
no século XXI os países ricos não querem nem ouvir falar de entrar em guerra
com soldados e canhões uns contra os outros, como se fazia há 100 anos, e
preferem falar em negociações e sanções, esse caminho também não é fácil, como
se provou ontem, um dia em que se tentou explorar a via diplomática na NATO e
em Paris. Mas a possibilidade de uma guerra económica com a Rússia causa um
arrepio na espinha colectivo dos governos europeus, ao pensarem nas
consequências económicas.
Se não há propriamente guerra no terreno, e há
tentativas de conversações diplomáticas, há um azedar das relações. A NATO
anunciou uma revisão aprofundada da sua cooperação com a Rússia e a suspensão
do planeamento de uma missão conjunta relacionada com a destruição das armas
químicas sírias. Ao mesmo tempo, vai acelerar o envolvimento com a liderança
civil e militar ucraniana, anunciou o secretário-geral da organização, Anders
Fogh Rasmussen, após um encontro com representantes russos.
Em
Paris houve uma intensa movimentação diplomática, com a presença do ministro
dos Negócios Estrangeiros russos a ser várias vezes desconfirmada de uma
reunião em que se poderia discutir a situação na Crimeia, à margem de um
encontro diplomático sobre o Líbano. Acabou por conversar com o secretário de
Estado norte-americano John Kerry e outros congéneres europeus.
Hoje,
os líderes dos União Europeia reúnem-se numa cimeira extraordinária para
discutir sanções contra a Rússia. Mas enquanto os Estados Unidos estão a
pressionar para que sejam impostas sanções fortes, na UE há divisões, que não
têm apenas a ver com a dependência em relação ao gás natural russo.
Há
outros valores que pesam, como o facto de Londres ser a cidade preferida dos
milionários russos. Setenta grandes empresas russas de hidrocarbonetos, como a
Gazprom, a Rosneft ou a Lukoil, ou o banco Sberbank, estão cotadas em Londres.
Roman Abramovich, o milionário proprietário do clube de futebol Chelsea, é um
próximo do Presidente Vladimir Putin.
A
Alemanha tem na Rússia o seu quarto maior parceiro comercial fora da União
Europeia — as empresas alemãs têm 22 mil milhões de euros investidas no país. A
chanceler Angela Merkel, embora não ponha a hipótese de sanções de lado, é a
líder europeia que mais tem defendido a mediação — embora secundada por França,
Reino Unido, Holanda e Itália. Entre as empresas com grandes investimentos na
Rússia está a Renault, que é em parte propriedade do Governo francês, e está
prestes a aumentar o capital que detém no maior fabricante de automóveis russo
para 75% ainda este ano. E Paris tem em curso um negócio para vender a Moscovo
navios de guerra, de que não está pronta a abdicar.
Retaliação
“Só
se devem considerar sanções se não prosseguirem as negociações. As sanções têm sempre
um impacto negativo para os que as lançam, devemos avaliar a situação com
cuidado. É provável que haja contra-sanções”, avisou Jykri Katainen, o
primeiro-ministro da Finlândia, que tem uma fronteira de 1300 quilómetros com a
Rússia e uma longa experiência de disputas com Moscovo.
Contra-sanções
é exactamente o que promete Andrei Klishas, da câmara alta do Parlamento russo,
que anunciou à agência RIA Novosti estar a preparar uma lei que permitirá
congelar bens e propriedades de empresas americanas e europeias na Rússia, em
retaliação contra eventuais sanções económicas.
O
que Klishas tem em mente roça a chantagem: “Estamos apenas a sugerir que em vez
de nos ameaçarmos uns aos outros com sanções, devíamos sentar-nos com os nossos
parceiros e ler a Constituição ucraniana para compreender o que o aconteceu
neste país soberano.” O objectivo, diz, é “fazer com que ouçam os nossos
argumentos legais e reajam de forma adequada, quer os nossos parceiros europeus
e americanos queiram, quer não.”
A
União Europeia decidiu congelar os bens de 18 ucranianos suspeitos de se terem
apropriado indevidamente de fundos estatais. E o secretário da Defesa
norte-americano, Chuck Hagel, anunciou que a cooperação económica com a Polónia
e com os países bálticos — as nações da UE que defendem uma posição mais dura
com a Rússia — ia ser reforçada.
No
terreno, deu-se um incidente diplomático. Robert Serry, enviado especial do
secretário-geral das Nações Unidas, ficou encurralado num café em Sinferopol, a
capital, com o seu carro rodeado por uma milícia armada —a Rússia continua a
negar que os homens armados com carros militares de matrículas russas na
Crimeia façam parte do seu exército. Serry refugiou-se com um grupo de
jornalistas e pôr um fim abrupto à sua missão.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo
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